Como aquela mulher
Eu vinha assim como quem não quer mais nada. Esperava o metro na volta pra casa depois de uma visita a minha irmã. Final de domingo, a gente fica querendo que a tarde se estenda e a segunda demore a chegar, penso em fazer um passeio ao ar livre quando chegar perto de casa, quem sabe assim acontece uma boa surpresa. Sim porque as chatices só na segunda. Mergulhada neste vai e vem e de vontades e fugas, embarco no trem quase lotado, fato incomum no final de domingo. Vejo um lugar livre, destes reservados para pessoas com necessidades especiais. Na minha malemolência, olhei para os lados para saber se havia alguém mais necessitada do que eu para o lugar naquele momento. Deduzi que não e sentei. De imediato a mulher que estava no banco do lado começou conversa comigo apoiando inteiramente meu gesto de ocupar um lugar reservado naquele momento. Quis me justificar e tão logo o trem parou na próxima estação uma senhora que acabara de embarcar me fez levantar e ceder o lugar. Trazia uma sacola com um vaso de plantas. Imediatamente a conversa que vinha tendo com a primeira mulher envolveu nova a passageira e continuamos viagem e assunto.
Dizia a primeira mulher que adorava plantas e tinha muitas em casa, mesmo podendo vê-las apenas nos finais de semana, os dias que podia retornar, pois morava longe e seu recurso era dormir no trabalho durante a semana.
Fiquei intrigada com o dizer da mulher que não era jovem, mas tinha uma vivacidade fora do comum apesar dos cabelos brancos presos em coque no alto da cabeça, vestida simplesmente com um porte e elegância despreocupados com a modernidade. Em determinado momento perguntei a mulher como podia estar trabalhando uma pessoa que ao meu ver já poderia estar simplesmente passeando. A resposta me deu foi outra pergunta:
- Qual idade você me dá filha ?
- Não sei, talvez sessenta e nove. Respondi.
- Quem dera, tenho oitenta e três anos. Falou a mulher.
- E a senhora ainda trabalha ? Perguntei agora mais interessada.
- Minha filha é o jeito. E olha que nenhuma mulher hoje em dia quer fazer meu trabalho. Eu cozinho e lavo roupas, e aos finais de semana, quando volto para casa, cuido das plantas e quando posso bordo uns paninhos de algodão que vendo para ganhar mais um dinheiro. Falou sobre a necessidade do trabalho sem nenhum ressentimento, orgulhosa até pelo poder de tirar o sustento no próprio trabalho em numa idade que sabe a grande maioria das pessoas desistiu de qualquer interesse pela vida.
Minha admiração pela mulher cresceu fiquei tomada por um sentimento de graça e inspiração. Se ela pode eu também posso chegar aos oitenta cheia de vida e vontade.
Afinal, quem duvida da força do feminino que mulheres como esta senhora são capazes de inspirar.
07 janeiro 2009
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Tecendo em Palavras
- Tecendo em Palavras
- Origem: a de muitos brasileiros; Destino: o que eu conseguir conquistar dentro de mim !
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